domingo, 12 de abril de 2009

Meu inferno pessoal

No final de 2008 eu estava com um estado psicológico tão abalado que posso dizer que estava em um período de inferno pessoal forte. Por mais que tudo pudesse parecer relativamente tranquilo comigo, as coisas não estavam, e então um turbilhão de coisas acontecem em sequência. Vamos por partes...

Para quem não sabe, minha avó Eurides vivia em uma cama. Ela teve um derrame em 2000, e depois disso ficou com partes dos movimentos e fala prejudicados. Durante 8 anos, pequenas isquemias fizeram com que o quadro clínico piorasse. Para piorar, sua doença foi motivo de uma grandes brigas familiares.

Ela vivia em um asilo, basicamente em sua cama. Aproximadamente em setembro/outubro, ela começou a ficar fraca, sem ânimo para nada. E minha mãe ficou muito nervosa com isso. Ela sempre ia visitar minha avó no asilo segundas e sextas. E eu passei a ir com ela várias vezes. Ela respirava muito fraco, e por várias vezes íamos achando que seria o último dia dela. Até que ela se internou em um hospital municipal em Niterói.

Neste momento gostaria de fazer uma pausa e contar minha experiência com o hospital em Niterói: Sim. Era muito mal-equipado, sucateado e com pessoas nos corredores sendo atendidas por falta de leito. Mas o material humano era de uma qualidade absurda. As enfermeiras tinham uma paciência ENORME com todos os pacientes e seus responsáveis. Eram atenciosas, ouviam, falavam todos os detalhes possíveis. Os médicos idem. Faziam o possível e o impossível para atender a todos com o mínimo de qualidade. E eu me perguntava como seria aquele hospital com aquele corpo técnico e com infra-estrutura decente. E se todos os hospitais fossem assim... isso me deixava muito puto...

E no hospital ela ficou durante quase um mês. E eu junto com minha mãe acompanhando minha avó. Aula? Pra quê? Naquele momento, minha avó era mais importante. Até que no meio de Novembro ela sucumbiu. Pouco antes do período de provas. A dor do falecimento de uma avó junto a provas não é uma boa combinação. De qualquer forma, eu consegui passar em todas as disciplinas(e até com um bom CR).

E então outra coisa acontece. Rebaixamento do Vasco. Sou vascaíno fanático, mas contido. Um dos grandes motivos para ser contido era a figura do Eurico Miranda. Mas a queda do déspota me fez reanimar. Infelizmente o time não correspondia em campo. Fui a praticamente todos os jogos do Vasco em São Januário na reta final. Cantei, apoiei o time. Mas a situação estava difícil. Até que no último jogo, o fatídico jogo, ao tomar o segundo gol, saio do estádio triste, abatido e... chorando. Sim, chorei, não nego e nunca negarei. Foi tão dolorido que passei uns dois dias completamente abatido.

E para finalizar com chave de ouro, minha outra avó também vem a falecer. Ela estava com um probleminha no intestino e se tratando. Aí foi fazer um exame, e o médico suspeitou que pudesse haver um tumorzinho. Foi fazer a operação numa quarta(véspera de minha última prova) para retirar e fazer a biópsia. E era um tumor. Pior: maligno, ou seja, um câncer. Ele não pôde religar o intestino, e colocou aquela bolsinha. Ela viveria com aquilo por aproximadamente um semestre, até operar novamente e voltar a vida normal, com um plus de uma quimioterapia leve. O câncer era brabo, mas o médico disse que acreditava não ter se espalhado. Então teria sido retirado todo, e a quimioterapia era apenas preventiva.

Novamente a vida de hospital. Dessa vez no Balbino, em Olaria(o hospital é basicamente o de Niterói com infra-estrutura). Nos revezaríamos para ficar com ela no quarto durante os dias. No primeiro dia ela tava no CTI, e conseguimos falar com ela. A operação foi um sucesso, e ela estava recuperando muito bem. Na sexta ela foi transferida pro quarto, de tão boa que estava. E eu me preparava para passar o dia com ela no sábado.

Mas durante a madrugada de sexta para sábado, uma parte do intestino necrosou, vazou e espalhou fezes pelo corpo. Os médicos tiveram que fazer uma operação de emergência para limpar e religar no sábado de manhã. E ela ficou no CTI direto. No domingo, seu quadro clínico era exatamente igual ao de minha outra avó em seus últimos dias: respirando por aparelho e o que fazia o coração bater era um remédio que aumentava absurdamente a adrenalina. E na madrugada de domingo para segunda, dia 22 de dezembro, ela veio a falecer.

Até 2000, ela morava uma rua em frente a minha. Depois de 2000, a um quilômetro de distância. Todo domingo ela fazia meu almoço, e quando era criança ela cuidava de mim e de minha irmã. Com essa pequena descrição dá para perceber a ligação com ela. Ademais, minhas duas avós faleceram em um intervalo de menos de dois meses!

Caos. Inferno pessoal. Tantas coisas ruins acontecendo em um curto período de tempo. E eu não conseguindo digerir. Meu chão desabou naquele momento, e eu não tinha muito onde me apoiar, visto que meus pais e minha irmã compartilhavam de quase o mesmo chão que eu. E foi nesse momento que eu não tinha ânimo para fazer nada. N-A-D-A-! Tinha um trabalho da faculdade para fazer com urgência. Caguei e andei. Ver tv. Não consegui ligá-la. Até ficar no computador eu estava sem ânimo. A depressão e o inferno queriam bater à minha porta.

Para não dizer que era total o desânimo, eu fiz duas coisas nesse momento. Uma foi jogar. Joguinhos de computador foram muito importantes para mim, por me ajudar a me distrair e não pensar apenas no que estava acontecendo comigo. Outra coisa foi falar merda com alguns amigos. Muita merda mesmo. E nesse momento tenho que agradecer a eles pelo apoio, e por conversarem comigo, mesmo que achassem que era apenas papo-furado. Mas foi esse papo-furado que me ajudou bastante. Algumas das pessoas eram o Xico, Jonas e Diogo, que discutíamos sobre o trabalho e falávamos besteiras, o Acre que discutíamos sobre mulheres suecas, o Buss me enchendoo saco pra comprar jogos no Steam, e a Dasha que sempre compartilha comigo experiências sobre 1/6 do planeta. Outras pessoas também me ajudaram. Se você conversou comigo nessa época, saiba que me ajudou bastante.

O Natal foi uma merda, mas depois de alguns dias pós-natal, decidimos ir a Cabo Frio para passar o ano novo lá. E lá eu tomei uma decisão: não iria deixar aquele inferno pessoal virar o ano. Ia dar um jeito, mas até a virada do ano, eu iria me recuperar. E foi assim que no Reveillon eu peguei uma garrafa de vinho, bebi quase toda e fui pra água depois dos fogos. De roupa e tudo. E depois do ano novo, comecei a fazer o trabalho loucamente. Isso me ocupou e impediu que meu inferno pessoal voltasse em 2009.

Agora, estou basicamente recuperado. Voltei à situação normal, e vivo minha vida como se fosse antes. Na realidade, tento viver, pois ainda não estou acostumado a comer em algum lugar aos domingos que não seja na casa de minha avó, comendo o macarrão que só ela sabe fazer. E lembrando que todos os sapinhos de pelúcia de minha outra avó estão comigo, e não com ela mais no asilo. Mas, infelizmente, vida que segue...

E foi assim que tive meu inferno pessoal bem forte. Mas felizmente consegui superá-lo e não transformá-lo em uma depressão, apesar de saber que estive no limiar de mergulhar no mar depressivo.

P.S. - Eu pretendia escrever um post sobre minhas duas avós e sobre o rebaixamento do Vasco na época. Mas meu estado de ânimo era nulo, e não escrevi nada. Agora acho que melhor assim...